segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Natal e Reveillon

Com a aproximação das festas de final de ano, começamos a ouvir novamente aquelas frases que quase todo mundo (pelo menos no Brasil) repete feito papagaio: “Ai, eu não gosto de Natal... Natal é triste. Eu adoro o Reveillon!” Eu, que sempre andei na contramão de tudo, também nisso sou do contra. Pra mim, Natal é que é o máximo.

Eu entendo que a chegada de um novo ano sempre é uma promessa de novas alegrias, de novas possibilidades, de novas soluções para antigos problemas. Muitas pessoas brindam a entrada do novo ano assistindo à queima de fogos de artifício ou banhando seus pés na água do mar. Mas a maioria comemora com festas nababescas onde se come, se bebe, se dança e se pula até a exaustão, ou até se cair no chão desfalecido. Nunca entendi a graça disso. Tudo bem, não vou discutir isso. Os mais antigos dizem: “o que é de gosto é regalo da vida”!

De onde vem tanta alegria? De repente, no dia 31, ninguém tem mais dívida, ninguém tem problema, tudo se resolverá magicamente com a simples chegada de mais 365 dias. Quem me ouve falar deve pensar: “Que espírito de porco!” Nada disso! Quem me conhece sabe que eu amo e celebro a alegria de viver. O que me incomoda é essa coisa carnavalesca de confundir alegria com anestesia, com alucinação, com gritaria. Parece que, como a maioria de nós não tem muita coragem de mudar a sua história, de tomar as rédeas da própria vida nas mãos (como indivíduo ou como nação), precisamos nos embebedar na noite de Reveillon para suportar a chegada de mais um ano em que certamente pouca coisa mudará. Sim, porque nada muda pela simples passagem do calendário. Nem nossa vida, nem nosso casamento, nem nossas finanças, nem nosso país, nem o mundo. A mudança precisa de nós, sóbrios e insatisfeitos e famintos por mudança.

Já o Natal para mim é a verdadeira festa da Alegria. Não me refiro à ceia fartíssima ou à desenfreada corrida aos shoppings centers (que é praticamente o que muitas pessoas conhecem do Natal). Tampouco me refiro ao significado religioso da festa, de quem celebra o Advento de Jesus como a Encarnação do Verbo Divino. As pessoas se dividem entre estas duas dimensões da Festa Natalina, correndo do shopping center para a Igreja e da Igreja para o shopping center, e acabam perdendo de vista o aspecto mais belo do Natal: o aspecto humano.

Humanamente falando, o que é que comemoramos? Comemoramos a vida de um homem que nasceu num estábulo, numa obscura e desprezível província do Império Romano e que, no entanto, sem dinheiro, armas ou exércitos, iniciou a revolução que demoliria o Império, e mudaria a História mundial. Um homem que exaltou os simples, os desprezados, os perdedores, e que com este fermento poderoso subverteu os valores soberbos da Antiguidade Clássica, obcecada pela força bruta e pelo fastio temporal. Um homem audaz que começou sua carreira religiosa dentro da Tradição Judaica, mas rompeu com ela ostensiva e ousadamente, abrindo a todos um caminho de liberdade e amor (ainda que os fariseus de todos os tempos insistam em fazer dele um legislador moralista e judaizante).

Um homem doce que não apenas deteve seu olhar nos doentes, nos pobres e nos infelizes, mas que fez deles a sua elite. Um homem irônico que desprezou as elites políticas, econômicas e religiosas de seu tempo como escória (no mesmo tipo de ironia que dezenove séculos mais tarde levou Simone de Beauvoir – uma atéia – a afirmar sobre os ricos que se encontravam no Ritz de Paris: “Os excluídos são eles!”).

Um homem para quem os últimos são mais importantes do que os primeiros. Para quem aquele que não revida é superior ao seu agressor. Para quem a pobre moeda de uma viúva aflita vale mais que muitos tesouros. Para quem a prece sincera de uma pessoa de vida duvidosa é mais santa do que as orações orgulhosas dos religiosos cheios de si mesmos.

A festa deste Homem único, se mais nada significa, é a festa da esperança para aqueles que estão aparentemente derrotados, para aqueles que aparentemente não têm nenhuma influência sobre a sociedade e sobre a História, para aqueles que cultivam a sensibilidade ao invés do poder, para aqueles que acumulam bem-querer ao invés de títulos, rótulos ou moedas. Num mundo tão injusto e de tantas desigualdades, haverá maior razão para alegria?
É bem verdade que desta celebração de Humanidade, o Natal transformou-se em mais uma festa pagã em homenagem ao estômago, aos olhos e aos bolsos dos lojistas, reunindo enormes clãs familiares ao redor de mesas ornamentadas e cheias de pratos tradicionais, ao lado da tradicional árvore de Natal, em torno da qual se acumulam montanhas de pacotes de presentes finamente embrulhados. Assim se celebra a simplicidade da manjedoura e a pobreza em que Cristo nasceu. É por isso que muitas pessoas que perderam entes queridos, aqueles que não se dão bem com seus familiares e aqueles que não têm dinheiro para deixar nos shoppings se queixam que o Natal é triste. Mas essa tristeza nada tem a ver com o Natal.

Para mim, o Natal é alegre de qualquer jeito. Eu amo o Natal. Com árvore ou sem árvore, com peru ou tender na Ceia ou com um simples frango assado de padaria, com presentes maravilhosos ou com uma pequena lembrança, com toda a família ou com alguns amigos ou só. Amo a doçura das canções natalinas tradicionais cantadas por corais, do “Messias” de Handel, do “Oratório de Natal” de Bach. Amo os milhares de cartões e mensagens que as pessoas mandam umas para as outras se desejando paz, amor e saúde. Amo minha árvore de Natal piscando no escuro da minha sala quando acordo para ir ao banheiro. Mas amo, primeiro e sobretudo, a promessa de renovação constante que o Natal simboliza, mais do que a passagem de um ano para o outro, como a passagem de muitos séculos já comprovou.

E você? Como será o seu Natal? Como os outros?

Dê um sorriso bem gostoso agora!! Este sim é o seu presente mais puro de Natal.

Você é feliz!!!Seja feliz!!

Que em 2008, você alcance o que lhe for suficiente para tornar a vida de todos que lhe cercam ainda mais feliz!

Nossa... como eu o admiro!!



Priscilla Toledo
Coordenadora Pedagógica e Facilitadora do Instituto Reinaldo Passadori

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